4 de novembro de 2009


Uma Homenagem ao mestre do Carimbó, uma dança linda de ver e de dançar.

O adeus ao Mestre Verequete, ícone da cultura
“O carimbó não morreu/ está de volta outra vez/ o carimbó nunca morre/ quem canta o carimbó sou eu.”
Os versos ritmados dão a medida da importância do Mestre Verequete para a cultura brasileira. Augusto Gomes Rodrigues morreu ontem, por volta do meio-dia, vítima de insuficiência respiratória aguda e infecção generalizada, no Hospital Universitário João de Barros Barreto, em Belém, onde estava internado desde o último domingo, dia 1º. Segundo o boletim médico divulgado pelo hospital, Verequete tinha pneumonia aguda e respirava com a ajuda de aparelhos. Nas próximas reportagens você vai acompanhar a repercussão da morte de Verequete, saber mais sobre sua obra e as homenagens que lhe serão prestadas.
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Homenageado até pelo presidente Lula como Comendador da Ordem do Mérito Cultural, uma das mais importantes honrarias do governo federal, Mestre Verequete chegou aos 93 anos convivendo diariamente com a pobreza. A exemplo do que acontece como muitos ícones da cultura popular, o nosso Rei dos Tambores não teve em vida o reconhecimento que merecia. Por muitos anos Verequete sobreviveu vendendo churrasquinho numa barraca em frente à vila onde morava, na periferia da cidade.
Em 2006, durante uma das raras entrevistas que concedeu nos últimos anos, Mestre Verequete era só queixas. Quando perguntado sobre os vários projetos já realizados no Pará em sua homenagem, ele desabafou: “‘Faço tudo por todos que vêm aqui, conto o que tenho que contar, mas depois não vejo nada. Nem uma foto bonita na parede eu tenho”.
Já nessa época, a memória não ajudava muito. Verequete dizia que tinha 105 anos e reclamava da saúde “caída”. Fraco e debilitado, preso a uma cadeira de rodas após sofrer vários derrames, ele estava morando num barraco de madeira com dois compartimentos, onde todo o mobiliário se resumia a um colchão jogado no chão, gavetas empilhadas num canto, uma cômoda com uma televisão velha e um aparelho de CD. Lá dentro, um forte odor de urina denunciava o descaso. Foi lá que Verequete viveu por um tempo, enquanto sua casa na mesma vila era reformada com o dinheiro ganho através de um projeto.
Mesmo com a idade avançada e o frágil estado de saúde, Verequete vez por outra saía de casa para receber alguma homenagem. Nessas ocasiões, ele se animava tanto que chegava a levantar da cadeira de rodas. “Quanto mais gente e mais aplauso, melhor pra mim”, dizia ele.
Ontem, a maior expressão do carimbó tradicional, o popular “pau-e-corda”, calou-se para sempre. Sua obra permanecerá, assim como a estranha sensação de que não sabemos dar valor ao que nos é mais caro.
Para acalmar o mestre, música era o melhor remédio

Segundo a família de Mestre Verequete, ele já vinha enfrentando problemas de saúde há vários anos. “Ele teve um enfisema pulmonar que o deixou muito debilitado. Ultimamente, todos os meses tinha consulta no Hospital Barros Barreto e tomava remédios”, contou a filha caçula, Lucimar Rodrigues, logo após o boletim oficial confirmando a morte de Verequete.
O próprio tratamento médico por vezes gerava problemas. “Receitaram um medicamento para ele dormir, mas ele ficou muito agitado, não reconhecia mais ninguém e queria ir para Icoaraci”, contou Josenilda Pinheiro da Silva, a dona Cenira, companheira do mestre por mais de três décadas. “Aí suspenderam o remédio e ele melhorou. Mas vivia brigando e falando sozinho”.
Para tranquilizá-lo, só tinha um jeito: Cenira colocava para tocar um CD com as músicas dele. Era assim que Verequete se acalmava.
Verequete tinha quatro filhos do primeiro casamento e um deles, Augusto Carlos, 42, mora na mesma vila que o paimorava, no bairro do Jurunas, e integra o lendário grupo O Uirapuru, que acompanhou Verequete desde o início da carreira. Os outros três vivem em Icoaraci.
(Diário do Pará)

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